Por: Tribuna de ACOPIARA
A 'Festa dos Caretas' reunia multidões nas cidades, mas hoje, a tradição está praticamente morta.
Todo bom nordestino que tenha seus trinta e poucos anos ou mais conhece bem a tradição dos caretas.
Acopiara já foi palco de muitas festas de caretas onde reunia multidão para celebrar a derruba do judas e ver o pessoal se divertir apanhando.
O folclore, a religiosidade e as tradições populares fazem desta festa um evento único no calendário de eventos do Brasil.
Mas antes de falarmos do agora, vamos relembrar um pouco das origens da festa dos caretas.
Origens
Os caretas é uma adaptação bem brasileira a uma festa portuguesa que acontecia no carnaval. Oriundo da região de Trás-os-Montes e Alto Douro, a festa do careta portuguesa se configura por um homem que usa uma máscara com um nariz saliente feita de couro, latão ou madeira pintada com cores vivas de amarelo, vermelho ou preto. Numa outra versão, a máscara, feita de madeira de amieiro decorada com chifres e outros apetrechos, é usada em Lazarim.
As vestimentas são uma forma de proteção da imagem do careta. Na antiguidade os escravos fujões aproveitavam esta festa para visitar os familiares sem serem reconhecidos pelos senhores de engenho. |
No Brasil a festa tipicamente carnavalesca foi trazida pela corte de Dom João VI. Os escravos do nordeste gostaram do que viram pois se assemelhava bastante com as festas tribais da Africa. Foi questão de tempo até os escravos adaptarem a festa para suas realidades, daí as mascaras passaram a ser feitas de estopa ou palha da carnaúba, assim como as vestimentas.
Com o passar dos tempos a versão escrava da festa se tornou tão difundida que até os senhores de engenho estimulavam o evento. O caboclo passou a fazer parte dessa festa que começa a ganhar ares de festa religiosa.
Depois de algumas décadas a festa tornou-se simbolo de fé, peregrinação, euforia.
A religiosidade
Os homens passaram a formar grupo e sair pelo 'mundo' pedindo esmolas e comendo apenas o que lhes era ofertado. Quarenta dias de peregrinação para lembrar dos quarenta dias que jesus passou no deserto.
No final da jornada, no sábado de aleluia, é montada uma grande festa para dividir com a comunidade tudo o que foi arrecadado durante a peregrinação e comemorar a ressurreição de jesus Cristo. O ato cristão de dividir o pão com o próximo é celebrado.
A dancinha engraçada é uma forma de agradecer os donativos recebidos.
A divisão tem suas peculiaridade, antes de tudo os donativos ficam muito bem guardados em um circulo rodeado por caretas com chicotes prontos para açoitar o primeiro que invadir o território deles.
Na verdade tudo não passa de uma grande brincadeira, mas os açoites são verdadeiro e reais. A diversão está em invadir o circulo, roubar os donativos e sair ileso sem muitas chicotadas. Dificilmente alguém consegue sair sem levar pelo menos umas três bordoadas. E ao final da brincadeira o que sobrar dentro desse circulo é repartido com os mais necessitados.
A derruba do Judas
O judas é um boneco de pano, parecido com um espantalho que fica pendurado pelo pescoço em uma vara muito, muito alta. O boneco é a simbologia do Judas da bíblia que traiu Jesus e com remorsos cometeu suicídio por enforcamento.
Os caretas convidam as pessoas para tentarem derrubar o judas. Para derrubá-lo é preciso acertar e romper a corda que o sustenta no alto de uma vara que fora cortada e posta lá dias antes.
Antigamente, quando a posse de armas era algo corriqueira por estas terras, o judas era derrubado a tiro de 38. Existia uma espécie de competição entre os melhores atiradores para ver quem era o melhor na mira e o vencedor ganhava para si o respeito dos demais.
Os açoites são verdadeiros, mas existem algumas regras como não bater na cabela.
Quando o judas era finalmente derrubado os caretas corriam para cima dele, e literalmente esquartejavam o boneco. O que sobrasse do algoz era jogado em uma fogueira.
Para finalizar encerrar a noite não poderia faltar o velho e bom forró pé de serra com seus chote e arrasta-pé.
Os detalhes eram um pouco diferentes de uma região para outra do nordeste. A vestimentas também mudava de região para região e o rito da festa de encerramento ou festa da derruba do judas também tinha suas variações, mas no geral a essência era esta.
Vestimenta típica dos caretas do carnaval. |
Hoje
Atualmente a festa dos caretas está em desuso. Não existe mais o grande ajuntamento que outrora existia e a festa tem se restringe principalmente às crianças e adolescentes.
Os anos vêm mostrando que a cultura dos caretas está em rápido e profundo declínio. As turmas de caretas, abundantes e outrora, já são figuras raras nas estradas do sertão e vivem apenas na memória dos mais velhos.
As poucas turmas formada não são numerosas e por ser de jovens não se afastam de onde são formados.
Antigamente era comum ver grupo com mais com 60 homens que cortava o nordeste ao meio e durante 40 dias viajavam por estes sertões afora em busca de alimento e dinheiro.
Hoje resta a esperança de que esta tradição tão brasileira e ainda mais nordestina não se perca no tempo e vire apenas histórias de antigamente.
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