Por: Tribuna de ACOPIARA
Chuvas nos primeiros meses do ano contribuíram para que a situação não fosse ainda mais crítica. Especialista diz que população deve considerar racionamento com 'naturalidade'.
Com o fim do período de chuvas no Ceará, janeiro a maio, as perspectivas de precipitações diminuem e, consequentemente, da recarga dos açudes que abastecem o estado. Em 2017, os níveis de água reposta aos reservatórios durante os primeiros meses do ano fizeram com que os açudes alcançassem um patamar um pouco abaixo que no mesmo período de 2016.
De acordo com os dados publicados diariamente pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), o atual nível das bacias está em 12,58% da capacidade total. Na mesma data do ano passado, havia uma reserva de 12,92% do volume das bacias.
As chuvas dos últimos meses contribuíram para que os níveis não tivessem uma redução ainda mais brusca, com o acréscimo de 1,3 bilhão de metros cúbicos de água nos açudes. Em janeiro de 2017, os níveis estavam ainda mais preocupantes, com apenas 6% da capacidade das bacias.
O Monitor de Secas do Nordeste do Brasil, ferramenta mantida em parceria por diversas instituições federais e estaduais, aponta que as chuvas ocorridas em abril colaboraram para a diminuição da intensidade da seca. Se em janeiro de 2017, por exemplo, o Ceará variava de seca grave, na região norte, a seca excepcional, do centro ao sul, em abril, a variação já circulava no território cearense entre seca fraca a seca grave.
Situação crítica
Ainda que o aporte de água das chuvas tenha minimizado a situação crítica percebida no começo do ano, a situação vista no ano anterior não melhorou. Essa é a conclusão de Nilson Campos, professor da pós-graduação em Recursos Hídricos da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro da Academia Cearense de Ciências.
"É possível que se aproxime de uma situação crítica que seja um quase colapso no início do próximo ano. Se for configurada mais um ano de seca, é uma situação muito provável", considera.
Para o especialista, é possível que ações mais rigorosas para o controle do uso da água precisem ser tomadas. "Nós devemos continuar com dificuldades no abastecimento. No ano passado tínhamos uma condição um pouco melhor, mas mesmo assim houve racionamento, principalmente com relação à agricultura irrigada. Então é provável que haja uma situação de racionamento mais acentuada que em 2016. A necessidade de racionamento deve ser aceita com mais naturalidade pela sociedade. É necessário que as populações urbanas economizem ainda mais água", relata Campos.
Dentre as opções viáveis para diminuir os riscos da falta de água para o Ceará, Campos aponta a transposição do Rio São Francisco. "A transposição é a chave. Sozinha não resolve o problema do estado como um todo, mas dá a garantia de não haver um colapso. É preciso também ver uma maneira de pensar o futuro das águas no estado. Não dá para ter uma política de instalar várias indústrias que vão consumir muita água. Na crise também é preciso pensar no pós-crise, para que outras mais graves não aconteçam", conclui o professor.
Balanço
Para o secretário de Recursos Hídricos do Estado do Ceará, Francisco Teixeira, após essa quadra chuvosa, o problema se concentra principalmente na região do Vale do Jaguaribe, já que açudes como o Castanhão, o Banabuiú e o Orós não tiveram grandes aportes. Já as bacias da Região Metropolitana de Fortaleza estão com cerca de 49% do volume o que, de acordo com o gestor, podem ser suficientes para terminar o ano.
"A nossa preocupação agora reside no próximo ano. A gente tem que continuar com o mesmo patamar de uso de agora, incrementando ainda mais ações de controle de perdas, de diminuição de consumo e diversificação das fontes hídricas, para poder atravessar não só esse ano, mas também o próximo, mesmo que haja seca em 2018", afirma Teixeira.
Com o abastecimento moderado do sistema da região metropolitana, Francisco Teixeira se mostra cauteloso ao considerar um colapso no sistema de distribuição de água, mas assevera a importância de manter a economia, já que não há reservas nas bacias maiores, caso as da Grande Fortaleza se esgotem.
"Dependemos da boa gestão dessa água para podermos atravessar mais um ano para frente. Mesmo que o ano seguinte seja de alguma seca, mas que caia alguma água. Se a do próximo ano for pelo menos igual a desse ano, a gente atravessa o resto desse ano e o próximo. Mas for seca total em 2018, aí a coisa dificulta. Por isso temos que fazer economia total logo agora", diz.
Acopiara
A cidade de Acopiara, no centro sul do estado, distante cerca de 350 Km da capital Fortaleza, é uma das cidades mais afetada pela ausência de chuvas. A situação, se comparada com 2016, piorou bastante. Se o quadro não mudar, a cidade deverá enfrentar 3 problemas graves decorrentes da seca prolongada:
- A barragem da cidade, que não aumentou seu nível de Água neste ano, provavelmente secará por completa;
- Os açudes circunvizinhos também deverão secar pois não acumularam água suficientemente para socorrer uma demanda mais elevada;
- O açude do Trussú, socorrista da cidade em tempos de pouca água, também começa a enfrentar problemas decorrentes da escassez de chuvas e brevemente não conseguirá mais abastecer a região.
Aí vem a pergunta:
Se o quadro descrito acima se confirmar, o que será dos Acopiarenses?
Com a colaboração do G1.com
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