Por: Tribuna de ACOPIARA
No Município do Sertão Central do Ceará, não apenas os habitantes da zona rural, mas os da cidade também sentem os efeitos da escassez de chuvas.
O Açude Arrojado Lisboa ainda abastece Banabuiú |
A falta d'água não é privilégio apenas de quem mora nas comunidades rurais do Interior do Ceará castigadas pela estiagem. Nos últimos anos, o colapso hídrico passou a atingir também a população urbana de cidades de médio porte, como Boa Viagem, a 220Km de Fortaleza. O problema só não é mais grave porque a equipe do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) se esforça para garantir o abastecimento nos chafarizes instalados nos bairros. A Defesa Civil do Estado auxilia com carros-pipa e o governo do Estado com poços profundos.
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- Bacia do Quincoê encontra-se em estado crítico. Barragem Dr. Tibúrcio Soares ainda não tomou água neste ano.
- Açude do Orós está cada dia mais seco e suas águas já se distanciam das casas dos ribeirinhos.
- Mesmo seco, açude em Banabuiú ainda abastece a população.
- Açude Adauto Bezerra secou há dois anos.
Passados seis anos, as chuvas ainda não foram suficientes para repor sequer o volume morto de água no Vieirão, como é conhecido o açude José Vieira Filho, com capacidade para 21 milhões de m³. Dele o SAAE capta a água para abastecer a população urbana. Mesmo assim, as chuvas de março trouxeram um pouco de alívio para os próximos quatro meses. As valas abertas para instalação dos ponteiros, um sistema de captação de água do subsolo, receberam um pouco de água. Será o suficiente para abastecer as unidades ligadas à rede pelo menos a cada duas semanas. A cidade é dividida em 15 bairros.
Sofrimento Coletivo
Nem mesmo o Paço Municipal escapou do racionamento. No hospital, nas escolas, nos hotéis, no comércio, onde não existe poço profundo o jeito é aguardar a passagem de algum carro-pipa. Os caminhões-tanque já são familiares no trânsito da cidade. Sempre são vistos circulando de um lado para o outro pelas principais ruas. Quem pode, paga até R$ 200 por uma carrada de sete mil litros para amenizar o problema, explica o diretor do SAAE Odécio Vieira. A residência dele também está incluída no rodízio, esclarece.
Atualmente, a cidade conta com 10.813 ligações de unidades consumidoras à rede de abastecimento. Desse total, apenas a metade está conseguindo ter água nas torneiras, mesmo assim enfrentando o racionamento. A maioria dos consumidores é humilde, com renda familiar limitada a um salário mínimo. Pelo consumo mensal de até 10 mil litros pagam R$ 18,60.
Hoje percebem a importância do consumo com consciência. Agora, cada gota é considerada um tesouro precioso na "joia do Sertão Central", como Boa Viagem é conhecida.
Risco de interrupção
A prefeita Aline Vieira acaba de assumir a administração do Município. A preocupação, no momento, não está apenas nas dívidas deixadas pelo gestor anterior, mas no abastecimento d'água. Além do esforço do SAAE, ela precisa contar com o auxílio da Defesa Civil, mas foi alertada da paralisação do abastecimento a qualquer momento, por falta de pagamento.
Com o corte no abastecimento, será necessário desembolsar pelo menos R$ 50 mil todo mês para garantir um mínimo de água para a população. Outros serviços, como o da Saúde, serão comprometidos. A esperança está a 40Km, no Açude Umari, em Madalena, e, embora, já tenha ouvido alguns comentários de resistência, água é um bem que não se nega.
A dona de casa Rosa Pereira Torres tem a mesma opinião. Ela mora no bairro Boaviaginha. Por sorte, o poço perfurado quase na porta da sua casa deu água e abastece o chafariz instalado ao lado. Basta atravessar a rua para apanhar os baldes d'água. "Foi uma bênção. Sem o poço, o sofrimento seria grande. Quem quiser saber o que é sofrer é não ter água em casa. Daí se aprende finalmente qual o seu valor. Todo preço que se pagar ainda é barato", comenta.
Esperança é adutora
A natureza tem seus caprichos, a ponto de chover o suficiente para encher um reservatório com capacidade para 35 milhões de m³ na cidade vizinha, Madalena, e o Vieirão não armazenar nada. O Umari também estava completamente seco, mas, de 7 de março a 18 de abril passado acumulou 28,3 milhões de m³, o equivalente a 80% da sua capacidade. A cidade, com cerca de 20 mil habitantes, está aliviada, pois deverá garantir o abastecimento pelos próximos três anos.
Na semana passada, em conversa com internautas pelo Facebook, o governador Camilo Santana confirmou a construção da adutora, ligando o Açude Umari a Boa Viagem. A expectativa é de que a ordem de serviço seja assinada o mais breve. Pelas estimativas da prefeita Aline Vieira, serão necessários pelo menos quatro meses para a adutora ser concluída. "Será um alívio para todos nós", disse.
Quanto à realidade diversa vivida pelas duas cidades, tão próximas, no decorrer da apresentação das previsões para a quadra chuvosa deste ano, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) ressaltou a possibilidade de chuvas localizadas, podendo haver maior concentração pluviométrica em um lugar e noutro, mesmo que bem próximo, ou não serem registradas chuvas.
Com a colaboração do Diário do Nordeste
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